Filosofia
O ilógico necessário
14/04/10
“Entre as coisas que podem levar um pensador ao desespero está o conhecimento de que o ilógico é necessário para o homem e de que o ilógico nasce muito bom. Ele está tão firmemente implantado nas paixões, na linguagem, na religião e em geral em tudo aquilo que empresta valor à vida, que não se pode extraí-lo sem com isso danificar irremediavelmente essas belas coisas.São somente os homens demasiadamente ingênuos que podem acreditar que a natureza do homem possa ser transformada em uma natureza puramente lógica; mas se houver graus de aproximação desse alvo, o que não haveria de se perder nesse caminho! Mesmo o homem mais racional precisa outra vez, de tempo em tempo, da natureza, isto é, de sua postura fundamental ilógica diante de todas as coisas.”
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm – Coleção os Pensadores – Humano Demasiadamente Humano – um livro para espíritos livres. – 5.ed. – São Paulo: Nova Cultural, 1999, 61-99, p. 75
O método desviante
09/04/10
Algumas teses impertinentes sobre o que não fazer num curso de filosofia
Como uma boa e velha professora de filosofia, prefiro cercear o assunto, amplo demais, por caminhos negativos, desvios e atalhos que não parecem levar a lugar algum. Digo “professora de filosofia”, porque meu território de atuação é, primeiramente, a sala de aula e a dinâmica com os estudantes, com todas as vantagens e todas as restrições que o ensino universitário no Brasil traz consigo. E digo também uma “velha” professora de filosofia porque posso me permitir, hoje, nesse momento de minha carreira acadêmica, algumas provocações que não vão (pelo menos, assim o espero!) colocar em questão nem meu contrato nem meu emprego. Imagino que os jovens colegas, com ou sem vaga ainda, não ousariam pensar de tal maneira, pelo menos explicitamente, porque têm que assegurar primeiro seu lugar no sol. Ofereço a eles um pequeno descanso na sombra.
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Epoché – Husserl
12/03/10
Para falar de Husserl necessitamos de definir o conceito de “Epoché”, porque sem isso a maioria não o compreenderia. “Epoché” deriva do grego antigo e significa “paragem”, “interrupção” ou “suspensão de juízo”.
Segundo Husserl, “Epoché” significa a suspensão do mundo, como que parado no tempo, embora com todas as suas características presentes e, por isso, passíveis de serem analisadas “de fora”, por um observador exterior. O “Epoché” de Husserl que suspende o mundo no tempo e no espaço, permite a quem medita conhecer-se a si próprio e tomar consciência da sua própria essência, e a autoconsciência adquirida desta forma é o “eu puro” de Husserl (ou o “eu transcendental”).
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O Pensamento e o Movente
24/02/10
(…)
Nossa iniciação no verdadeiro metódo filosófico data do dia em que rejeitamos as soluções verbais, tendo encontrado na vida interior o primeiro como de experiência. Todo progresso posterior foi um alargamento desse campo. Estender logicamente uma conclusão, aplicá-la a outros objetos sem ter realmente alargado o círculo de suas investigações, é uma inclinação natural do espírito humano, mas à qual é preciso não ceder nunca. A isto se abandona ingenuamente a filosofia quando ela é dialética pura, isto é, tentativa para construir uma metafísica com os conhecimentos rudimentares que se encontram armazenados na linguagem. Ela continua a fazé-lo quando erige conclusões tiradas de certos fatos em “princípios gerais” aplicáveis ao resto das coisas. Toda a nossa atividade foi um protesto contra essa maneira de filosofar. Tivemos, assim, de deixar de lado questões importantes, às quais teríamos facilmente dado um simulacro de respostas prolongando até elas os resultados de nossos trabalhos precedentes. Só respondemos a cada uma se nos são concedidos o tempo e a força de resolvê-la nela mesma, por ela mesma. Senão, reconhecidos ao nosso método por nos ter dado o que cremos ser a solução precisa de alguns problemas, constando que não podemos ir mais longe, ficamos por ai. Nunca nos empenhamos em escrever um livro.
Henri Bergson
{Paris, 18 de outubro de 1859 — Paris, 4 de janeiro de 1941}
Coleção “Os Pensadores”
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30/01/10
XX
Descrevi noutro lado as circunstâncias em que conheci André Breton, no barco que nos levava a Martinica: longa viagem em que enganávamos a maçada e o desconforto discutindo sobre a natureza da obra de arte, primeiro por escrito, depois em conversa.
Para começar, eu tinha dado um texto a apreciar a André Breton. Ele respondeu-lhe e eu guardei a sua carta preciosamente. O acaso quis que, muito mais tarde, arquivando papéis velhos, eu tivesse encontrado o meu texto: Breton, provavelmente, tinha-mo devolvido.
Ei-lo seguido do texto inédito de Andre Breton. Agradeço a Madame Elisa Breton e Madame Aube Elleouet a autorização de publicação
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