Filosofia

Homem x Maquina

“O homem, ao mesmo tempo que sonha com todas as suas forças em inventar uma máquina mais forte do que ele mesmo, não pode admitir a possibilidadede não ser o mestre de suas criaturas. Tanto quanto Deus. Poderia Deus ter sonhado em criar o homem superior ao criador e em enfrentá-lo num combate decisivo? É o que, contudo, fazemos com nossas criaturas cibernéticas, às quais oferecemos a oportunidade de nos derrotar.”


{Baudrillard, Jean. Tela Total. Porto Alegre, p. 134, 1997. Editora Sulina.}

A Filosofia é de matar!

Confira como foi a morte de vários filósofos.


Tales: Afogamento (água perigosa!)
Parmênides: Descobriu que era o não-ser
Ockham: Cortou-se com navalha ao fazer a barba
Descartes: Parou de pensar
Espinosa: Abusou da substância
Leibniz: Monadanucleose
Darwin: Acabou vencido na seleção natural
Hume: Convenceu-se de que não tinha causa e apenas existia por hábito
Kant: Não resistiu a uma crítica a seu respeito
Heidegger: Enquanto Dasein, chegou à impossibilidade de todas as possibilidades
Sartre: Por Náusea
Pascal: Ficou abatido depois de perder uma aposta
Wittgenstein: Tentou ver se a morte era uma experiência que se possa viver (alternativa: caiu de uma escada)
Hegel: Colisão com uma coruja ao anoitecer

E a esta seleta lista podemos acrescentar mais estes outros:

Anaxágoras: Falta de ar
Heráclito: Efeito do devir
James: Quis acreditar que estava morto
Platão: Ficou sem Ideias
Aristóteles: Lógico, dado que antes estava vivo
Tomás de Aquino: Perdeu-se nas Cinco Vias
Berkeley: Deus esqueceu-se dele
Kierkegaard: Por temor do tremor
Agostinho: Ficou sem tempo
Sócrates: A discussão chegou-lhe ao fim
Hobbes: Foi devorado pelo Leviatã

Ainda há que acrescentar:

Thomas More: não morreu no não-país em que a não-morte era não-morrer
Maquiavel: foi derrotado pela princesa mais temida que amada
Santo Anselmo: imaginou que estava morto e morreu
Marx: os seus próprios revolucionários revoltaram-se contra a sua revolução
Rousseau: foi morto por um bom selvagem, enquanto assinava um contrato social
Montesquieu: foi executado por uma interpretação legislativa do judiciário
Empédocles: suas homeomerias passaram a ser as homeomerias das minhocas
Demócrito: morto por uma bomba atômica
Chardin: foi absorvido pelo Cristo Cósmico
Nietzsche: pulou da janela achando que era o “super-homem”
Bacon: foi fritado

(Texto organizado a partir de elementos retirados do site Critica Na Rede e de contribuições de outros autores amantes da sabedoria).

Pensamento Mítico e Logos

O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra a palavra que demonstra. Logos e mito são as duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos, sendo uma argumentação, pretende convencer. O logos é verdadeiro no caso de ser justo e conforme à lógica; é falso quando dissimula alguma burla secreta (sofisma) Mas o mito tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-se ou não nele conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas as suas criações.


{GRIMAL, Pierre. A mitologia grega. p. 8-9}

O Cogito em Agostinho

Santo Agostinho acreditou ter superado os acadêmicos, levando o ceticismo destes à última conseqüência, ao dizer “se duvido, no ato de duvidar tenho consciência de mim mesmo como o que duvida. Se me engano, sou, pois o que não é não se engana.” Com a formulação si fallor sum, Agostinho antecipa Descartes em séculos.

Razão: Tu que queres conhecer-te a ti mesmo, sabes que existe?

Agostinho: Sei.

Razão: De onde sabes?

Agostinho: Não sei.

Razão: Sabes que te moves?

Agostinho: Não sei.

Razão: Sabes que te pensas?

Agostinho: Sim

Razão: Portanto, é verdade que pensas?

Agostinho: Sim.

Razão: Tu queres existir; viver e entender, mas existir para viver e viver para entender. Portanto, sabes que existes, sabes que vives, sabes que entendes.”

{Agostinho. Solilóquios. II, 1, 1.}

Quem, porém, pode duvidar que a alma vive, recorda, entende, quer, pensa, sabe e julga? Pois, mesmo se duvida, vive; se duvida lembra-se do motivo de sua dúvida; se duvida, entende que duvida; se duvida, quer estar certo; se duvida, pensa; se duvida, sabe que não sabe; se duvida, julga que não deve consentir temerariamente. Ainda que duvide de outras coisas não deve duvidar que duvida. Visto que se não existisse, seria impossível duvidar de alguma coisa.

{Agostinho. A Trindade. X, 10, 14.}

Pois, se me engano, existo. Quem não existe não pode enganar-se; por isso, se me engano, existo. Logo, quando é certo que existo, se me engano? Embora me engane, sou eu que me engano e, portanto, no que conheço que existo, não me engano. Segue-se também que, no que conheço que me conheço, não me engano.
Como conheço que existo, assim conheço que conheço.

{A Cidade de Deus. XI, XXVI.}

Gilles Deleuze: Platão, os gregos

      O platonismo aparece como doutrina seletiva, seleção dos pretendentes, dos rivais. Toda coisa ou todo ser pretendem a certas qualidades. Trata-se de julgar sobre o bem-fundado ou sobre a legitimidade das pretensões. A Idéia é posta por Platão como o que possui uma qualidade primeiro (necessária e universalmente); ela deverá permitir, graça à provas, a determinar o que possui uma qualidade em segundo, terceiro, segundo a natureza da participação. Tal é a doutrina do julgamento. O pretendente legítimo, é o participante, aquele que possui em segundo, aquele cuja pretensão é validada pela Idéia. O platonismo é a Odisséia filosófica que continua no neoplatonismo. Ora ele afronta a sofística como seu inimigo, mas também como seu limite e seu duplo: porque ele pretende a tudo ou a não importa o que, o sofista arrisca fortemente a embaralhar a seleção, a perverter o julgamento.
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Um grande jogo

Quarta-feira de cinzas

      Você já parou para pensar por que escola de samba se chama escola de samba? Se é escola, é por que ensina algo; mas ensina o quê? Samba? Como diria Nelson Rodrigues, isto é o óbvio ululante. Mas é só isso que a escola de samba ensina? Ou ensina também uma ética, uma estética e uma identidade comunitária? Um modo de compreender a polis, de se posicionar e agir em relação a ela, modificando-a? Penso que isso e mais alguma coisa. Ensina a diferença entre ensinar samba e ensinar a sambar; o que nos conduz à clássica pergunta, agora dirigida à nossa própria escola: ensinar filosofia ou ensinar a filosofar.
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Pablo Neruda e o filósofo


      Em que pensa Pablo Neruda enquanto deita sobre o filósofo Maurílio Camello seu melhor olhar metafísico? Talvez pense sobre este curioso ser, instado e tolhido pela própria racionalidade a buscar uma verdade que lhe escapa, mas está lá. Pablito (para os íntimos) ou Bito (para os amigos de longa data, como é o caso do filósofo) talvez se recorde das palavras de Aristóteles sobre a sabedoria ao fixar seus astutos olhos felinos em seu companheiro de jornada, ali mesmo em volta de seu computador, onde o vê preparar suas aulas, entre eurekas e profundas meditações, por vezes acompanhadas de expressões pouco doutas, mas de uma precisão absoluta. Ali, fora do tempo e do espaço a dialogar carinhosa e animadamente, vividamente com aqueles que vem segredar a seus ouvidos alguns dos mistérios que buscamos entrever, a extrair da vida e devolver a ela a virtude do verdadeiro “sabedor” que distingue os filósofos dos apenas professores de filosofia; a preparar encontros como aquele do qual tivemos o privilégio de participar na Faculdade Católica de Pouso Alegre, em sua aula magna proferida para o curso de Filosofia no dia 06 de fevereiro de 2009. Encontro que foi bem além da oração de sapiência; foi magistral, na acepção mais estrita do termo, logrando seu intento de ensinar apenas aquilo que precisamos saber.
      Caro mestre Maurílio, oxalá possamos trilhar caminhos tão férteis quanto os que sustentaram seus passos e cheguemos a saber que não sabemos ao menos uma parte do que o senhor sabe que não sabe. Agradecemos pela inspiração.


Mauricio Almeida
Terceiro Período de Filosofia

Tudo cura o tempo

                  Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as feições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco com que já não tira; embota-lhe as setas com que já não fere; abre-lhe os olhos com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas com que voa e foge.

         A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas: descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor! O mesmo amar é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos.


[Padre António Vieira] – Sermões