A exposição pública do anônimo no virtual
Dizem por aí que os diários estão fora de moda, a onda agora é o virtual e os blogs dominaram o espaço público!
Desde nova mantive diários e agendas, eles sempre carregaram confidências minhas para que somente eu as pudesse ler. Vejo agora as coisas mudarem e as pessoas e suas vidas tornarem-se cada vez mais públicas através da internet. Não se tem mais confidências, o que temos são blogs, orkut’s, msn’s, myspaces, não nos esqueçamos do you tube – a invasão de privacidade – e o contato com o mundo e tudo que se passa nele através do virtual.
Não penso que isso seja algo ruim, ou do contrário não estaria aqui também, me publicando. Entretanto, talvez devessemos nos questionar até que ponto seria positivo O SER PÚBLICO nos nossos tempos. Inúmeras pessoas são vitimas de vídeos escandalosos postados na internet, e não falo somente dos famosos; e sim das pessoas que saem de um “anonimato” direto para os vídeos e perfis mais visitados da rede. O ser humano se sente cada vez mais preocupado com o alheio? será inato em nós esse desejo ou curiosidade – chame como quiser – pela vida do outro? Ou será que o anonimato já não mais existe depois da onda dos relacionamentos virtuais?
A exemplo disso temos os casos que são demasiadamente explorados pela mídia, como o de Isabela Nardoni ou de Heloá, morta pelo namorado. Sem dúvida fatos que chocam a sociedade, mas não se deve negar o apelo exagerado da mídia por estes casos – e não só estes. Estes são apenas exemplos. Para que o público fosse “informado” a rede globo paralisa o horário chamado “nobre” dos domingos a fim de mostrar a reconstituição do assassinato da menina. E passado algum tempo? Alguém da mídia se lembrou de tal fato? As vidas continuam e seguindo cada qual suas diretrizes.
O escopo de tanta exploração destes casos: Mostrar o que o povo quer ver, o alheio, o sofrimento, a banalização, a exposição! E aquele que nega o que estou dizendo deve ser um telespectador assíduo de Big Brothers e ainda não confessa seu interesse pela exposição e pelo alheio. Cômico não?
Enfim, não acho o fim do mundo usarmos todos esses meios de comunicação virtual, acho o fim usarmos para alienação e não para a educação. Encerro com o pensamento de que os blogs e demais meios de comunicação públicos virtuais não servem apenas para que pessoas se banalizem, mas são um meio de intervenção social e discussão crítica da sociedade.
Bianca Paiva
3º Período de Filosofia
há 15 anos atrás
Bianca. Legal seu texto sobre os diários. Antes da internet os diários eram escritos na intimidade, com todo o tempo do mundo, como reflexões pessoais e muitas vezes ficavam perdidos, às vezes eram publicados depois da morte do autor. Muitas abordágens em história social tem sido hoje elaboradas a partir de antigos diários, uma vez que a questão da “subjetividade” está presente nas diversas áreas das ciências humanas.
Agora muitos diários via internet carecem das reflexões profundamente amadurecidas com o tempo, quero dizer, são mais instantâneos e imediatos, e isso muitas vezes torna impossível aquela carga de sentimento e vivência que os diários de antigamente portavam.
Sugiro leitura do Diário Completo de Lúcio Cardoso, Livraria José Olímpio, RJ, 1970. Ele tem uma profundidade filosófica e existencial que certamente irá lhe agradar muito.