Uma filosofia da fotografia
E se afinal, quando fotografamos, estivermos a ser seduzidos por um aparelho e por uma indústria publicitária responsável pela venda de material fotográfico? Se o aparelho (fotográfico) é apenas propriedade de alguns, haverá um fotógrafo-proletário e um fotógrafo-capitalista? Estas são algumas das perguntas que Flusser esboça no seu Ensaio sobre a Fotografia, perguntas que julga não serem as mais importantes, nesta era das imagens técnicas, mas sim o programa da máquina.
O que lhe chama a atenção no aparelho é o facto deste ser uma caixa negra, que o homem sabe como alimentar e como fazer cuspir fotografias. O que se passa dentro da caixa fica no âmbito do desconhecido.
“Estar programado é o que caracteriza o aparelho” pode ler-se neste ensaio, e é este programa que o aparelho pretende esgotar, cativando o vício do fotógrafo em capturar a realidade, vez após vez, não lhe contando que este pode ser um fantoche nas mãos de um aparelho que quer apenas que lhe sejam descobertas todas as suas virtualidades. Fotografar é jogar o jogo que
o aparelho oferece mas é também levar avante as intenções do fotógrafo que pretende a realização do universo fotográfico.
Analisar o gesto de fotografar, gesto de caça, pode ajudar-nos a compreender a existência humana numa situação pós-industrial e a averiguar onde paira a liberdade do indivíduo. É nesse sentido que Flusser julga ser necessária uma filosofia da fotografia.
Villém Flusser, Ensaio sobre a fotografia: para uma filosofia da técnica, Lisboa, Relógio d’Água, 1998.