Pablo Neruda e o filósofo
08/02/09
Em que pensa Pablo Neruda enquanto deita sobre o filósofo Maurílio Camello seu melhor olhar metafísico? Talvez pense sobre este curioso ser, instado e tolhido pela própria racionalidade a buscar uma verdade que lhe escapa, mas está lá. Pablito (para os íntimos) ou Bito (para os amigos de longa data, como é o caso do filósofo) talvez se recorde das palavras de Aristóteles sobre a sabedoria ao fixar seus astutos olhos felinos em seu companheiro de jornada, ali mesmo em volta de seu computador, onde o vê preparar suas aulas, entre eurekas e profundas meditações, por vezes acompanhadas de expressões pouco doutas, mas de uma precisão absoluta. Ali, fora do tempo e do espaço a dialogar carinhosa e animadamente, vividamente com aqueles que vem segredar a seus ouvidos alguns dos mistérios que buscamos entrever, a extrair da vida e devolver a ela a virtude do verdadeiro “sabedor” que distingue os filósofos dos apenas professores de filosofia; a preparar encontros como aquele do qual tivemos o privilégio de participar na Faculdade Católica de Pouso Alegre, em sua aula magna proferida para o curso de Filosofia no dia 06 de fevereiro de 2009. Encontro que foi bem além da oração de sapiência; foi magistral, na acepção mais estrita do termo, logrando seu intento de ensinar apenas aquilo que precisamos saber.
Caro mestre Maurílio, oxalá possamos trilhar caminhos tão férteis quanto os que sustentaram seus passos e cheguemos a saber que não sabemos ao menos uma parte do que o senhor sabe que não sabe. Agradecemos pela inspiração.
Mauricio Almeida
Terceiro Período de Filosofia
Tudo cura o tempo
28/12/08
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as feições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco com que já não tira; embota-lhe as setas com que já não fere; abre-lhe os olhos com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas com que voa e foge.
A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas: descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor! O mesmo amar é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos.
[Padre António Vieira] – Sermões
1º Turma de Filosofia 2008
19/12/08
Parabéns a todos os Formandos da 1º Turma de Filosofia da Faculdade Católica de Pouso Alegre..
A primeira de muitas turmas… Parabéns e muito sucesso.
Há que potenciar a Razão
16/12/08
”A razão não é simplesmente uma espécie de tendência automática. A razão está em boa medida baseada no confronto com os outros, quer dizer, raciocinar é uma tendência natural baseada, ou para nós fundada, no uso da palavra, no uso da linguagem; e o uso da linguagem é o que nos obriga a interiorizar o nosso papel social. A linguagem é sociedade interiorizada
O elemento racional está em todos os nossos comportamentos, faz parte das nossas mais elementares funções mentais. Se alguém nos disser que ao meio-dia comeu uma feijoada e que a paella estava muito boa, imediatamente dizemos: “não pode ser; ou feijoada ou paella”. O próprio acto de nos darmos conta de que há coisas incompatíveis, de que as coisas não podem ser e não ser ao mesmo tempo, ou que as coisas contraditórias não podem afirmar-se simultaneamente, ou que tudo deve ter alguma causa, supõe exercícios de racionalidade.
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Hume e a origem das ideias
13/12/08
Hume utiliza o termo “percepção” para referir quaisquer conteúdos da experiência (…). As percepções ocorrem quando o indivíduo observa, sente, recorda, imagina, e assim por diante, sendo que o uso atual da palavra cobre um leque muito menos vasto de atividades mentais. Para Hume, existem dois tipos básicos de percepções: impressões e idéias.
As impressões constituem as experiências obtidas quando o indivíduo observa, sente, ama, odeia, deseja ou tem vontade de algo. Hume descreve este tipo de percepções como sendo mais “vívido” do que as idéias, termo com que o filósofo parece querer afirmar que as impressões são mais claras e mais pormenorizadas do que as idéias. As idéias, por sua vez, são cópias das impressões. Trata-se dos objetos do pensamento humano quando os indivíduos recordam a sua experiência ou exercitam a sua imaginação.
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Ano Vieirino
03/11/08
[ Para Um Homem Se Ver a Si Mesmo ]
Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três cousas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que cousa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para essa vista são necessários olhos, é necessário luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?
[Padre António Vieira] – Sermão da Sexagésima