Filosofia Urgente
Imagine viver um mundo onde não há pensamentos. Imagine viver em um mundo onde não existam novas propostas nem análise das antigas. Parece-nos impossível vislumbrar tal situação. Como viver sem refletir? Como se relacionar sem ponderar todas as coisas?
Vivemos daquilo que pensamos. Somos exatamente aquilo que pensamos ser. O mundo é tal qual o concebemos. Reagimos às situações de acordo com nossas “cargas” culturais e sociais, porém necessitamos de conhecer mais sobre tudo o que nos cerca. É através do verdadeiro conhecimento que podemos ter uma cosmologia cada vez mais diferenciada.
Como achar o caminho da felicidade? Como encontrar um caminho que nos faça viver em melhores condições? Quais os princípios a serem seguidos? Onde buscá-los. Filósofos antigos já buscavam respostas para perguntas semelhantes. Em seus discursos Sócrates já atentava para o cuidado com a alma, ou seja, o homem deve pensar em coisas mais sublimes, buscando o bem da sociedade, saindo da mesmice e ampliando seu horizonte. A maioria das pessoas, porém vive do senso comum. Não se questiona profundamente sobre a razão das coisas e se acostuma a viver de maneira linear.
A degradação da ética e a perda de valores têm trazido grandes males a sociedade. Parece que a humanidade se extraviou em tantos caminhos. Vivemos uma crise ética. A cada dia assistimos atos de brutalidade, de desumanidade, de corrupção por membros dos mais altos escalões governamentais, influenciando o povo mais simples a também viver de maneira irresponsável. A imoralidade talvez seja o maior problema enfrentado em nossos dias. Crianças abusadas sexualmente, mulheres mutiladas pelos seus maridos, desvio de verba pública pelos que foram eleitos pelo povo para representá-los, vidas sendo perdidas em filas e nos corredores dos hospitais. Crianças e adolescentes iniciando cada vez mais cedo na prática de crimes e delitos. Vivemos num caos, isto é na desorganização completa e total do sistema.Por que chegamos nesta situação? Falta de dinheiro? Falta de educação? O que tem alavancado todos esses desvios de conduta? A falta da verdade em nossas relações quer nos dizer algo? Tudo isso merece uma reflexão profunda da atual condição do ser humano, de seus valores e de seu modus vivendi, sofrendo assim uma crítica severa com o objetivo de trazer propostas para amenizar tanto sofrimento. Qual área do conhecimento pode proporcionar tudo isso?
É nesta perspectiva que podemos afirmar categoricamente: o mundo precisa de filosofia. Filosofia não é uma ciência estática, teórica, transcendental ao ponto de ter seus objetos de pesquisa e conclusões jamais alcançados. O amor a sabedoria é o caminho para se encontrar respostas válidas e práticas ao ponto de transformar a vida de quem a entende e assim indiretamente transformar o mundo em que vivemos. Como afirmou Sócrates sabiamente: “uma vida que não é pensada não vale a pena ser vivida”.
Em contra partida o mundo parece desprezar a busca do saber num sentido mais amplo. A filosofia é em nossos dias refutada a algo de segundo plano, uma relíquia. A reflexão filosófica não é de todos, mas é para todos. Nem todos do povo se interessarão pela filosofia, mas é necessário que todos os filósofos se interessem pelo povo. A maioria das pessoas vive estagnada a pensar superficialmente sem se importar com as questões de ordem profunda. Pensando assim podemos afirmar que o mundo necessita cada vez mais de filosofia.
A filosofia vai muito além do senso comum, além das perspectivas momentâneas, do pensamento imediatista, do conhecimento das outras áreas do saber, que se aperfeiçoam cada vez mais nas partes e não no todo. Isso é trabalho e função da filosofia. As ciências por mais que se evoluam e se aperfeiçoem não podem ocupar o a cadeira dos filósofos.
Todas as vezes que a filosofia foi retirada dos fluxos curriculares em nosso país demonstrou-se que este se encontrava em época de trevas, onde nosso povo sofre até hoje a cultura do não aprender, do não pensar. Assim foi no golpe militar de 1964 e anos futuros. Hoje podemos comemorar em certo sentido, pois a filosofia voltou a ser matéria obrigatória no ensino médio.
Há ainda outro ponto a salientar: a questão ética, a prática do viver. Como saber o que é bom? Como saber o que é justo, o que é ético, o que é bom para a sociedade? Em que valores podemos nos apegar, onde buscar tais respostas para que o Bem possa ser uma realidade na vida do homem? Onde encontrar tais respostas? Por que vivemos uma crise ética? Como poderemos restaurar valores perdidos no tempo?
Podemos, entretanto, pensar em outras questões que são e merecem continuar sendo objeto da filosofia: quando o homem tem seus valores abalados, quando este se espanta diante das situações que lhe fogem ao controle cognitivo, quando se entra em uma crise existencial e seus porquês começam a lhe intrigar, não alcançando respostas que amenizem seu sofrimento, experimenta então a necessidade da reflexão como instrumento para se alcançar respostas não imediatas, superficiais, mas respostas mais racionais, as quais as ciências não alcançam, uma vez que não têm esse propósito nem meios para tal. Aí é que está o grande papel da filosofia na vida do homem: ajudá-lo a conhecer não as partes, mas sim o todo. A filosofia é pretensiosa, quer saber sobre o todo, e o mundo necessita desta benéfica pretensão, sim o mundo precisa de filosofia urgentemente.
Bernardo Rafael de Carvalho Pereira
Primeiro Período de Filosofia
há 15 anos atrás
E com o imediatismo de tudo a filosofia tem ficado em segundo plano.
Me lembrei da Marilena Chaui, no Ciclo “O Silêncio dos Intelectuais” onde ela fala sobre “Intelectual engajado, figura em extinção?”.
Podemos dizer que temos hoje exemplos de engajamento? Estamos carentes de bons exemplos (=
Mas ainda lutamos…
[s]s